Fúria de Thrune

Fúria de Thrune

12 de Abadius, 4716, Manhã

A luz do sol de um ano novo banhou Longacre. Faziam duas semanas desde a batalha final que havia esmagado a rebelião na cidade, e o poder chelixe nunca estivera tão forte ali. A Casa de Cinzas era reconstruída como uma mansão digna do novo barão, Vito Eminarken. Um tiefling, sangue do inferno em suas veias. E todos os cidadãos haviam sido obrigados à beijar a mão do seu senhor em sinal de devoção e lealdade. Naquela manhã, porém, ele era convocado. O arquiconde voltava à convocá-los pela primeira vez desde o dia de sua coroação, e agora ele novamente era cobrado. A marca de seu juramento aos Thrune queimava o sinalizando isso. Seu corpo havia sido jurado.

Elric tinha um quarto na base da guarda. O quartel era basicamente seu domínio, tendo recebido junto de sua promoção para Cavaleiro Infernal controle formal das forças militares de Longacre e o posto de tenente do exército imperial. Mas ele também tinha outra casa naquela cidade, sempre que quisesse: as portas de Cimri Staelish sempre estavam abertas para ele, assim como as pernas da psicótica agente de Fex. Nesse ponto, haviam mais marcas em seus corpos de sua relação do que de combates. Quando a marca que representava a promessa de lealdade de seu corpo aos Thrune queimou em uma manhã, porém, ele soube que era convocado para mais uma missão para seus superiores.

Ordo ainda tinha de viver com sua falha. Ainda um armígero. Mas persistia, sua fé não abalada. Havia tomado a igreja de Longacre por permissão do arquiconde, embora qualquer obrigação religiosa dos locais estivesse sob a condição de permissão e ordens do novo barão. Ainda assim, alguns antigos fiéis de Iomedae vinham ouvir a nova palavra.

E havia um desconhecido deles. Alguém que vivia nas sombras, o agente retornava de uma operação aonde havia interrompido uma tentativa de liberação de escravos por agentes da Rede de Campânula. Havia sido bem sucedido, com as duas líderes, uma clériga halfling de Ravounel e uma feiticeira humana varisiana, se provando incapazes de triunfar contra o capataz. Uma carta havia sido entregue para ele não muito depois. Uma convocação formal de seu superior, Darellus Fex. Conhecia a fama do homem. Um mago particularmente perigoso e letal que havia feito seu nome nos ranks dos seguidores de Thrune. Se queria ele diretamente, era algo importante. E naquela manhã, ele havia finalmente chegado diante do palacete de Fex.

Todos se encontraram no salão de refeições de Fex, aonde uma mesa com várias iguarias eram oferecidas. Massas folheadas recheadas de carne de cocatriz desfiada em creme, pães escuros de cerveja com manteiga de búfala, fatias de tortas de maçã com especiarias de Vudra. Em xícaras, bebidas quentes escuras de cheiro agradável vindas diretas de Katapesh eram servidas, com vinhos e sucos oferecidos como opções geladas. Sentado em uma cadeira luxuosa, Fex os esperou se sentarem:

Bem vindos, senhores. Vejo que todos estão vivos e inteiros. Os apresento outro dos agentes de nossa organização, Noldon Akhir. Noldon, estes são o barão Vito Eminark; o Cavaleiro Infernal da Ordem da Roda Elric Singmund; e o armígero da ordem da Garra Divina Ordo. Vocês se provaram, e agora serão oficialmente reconhecidos como agentes plenos e confiados de Thrune. É a última chance de voltarem atrás se quiserem manter autonomia de seus corpos: a partir de hoje, são instrumentos de Thrune. Mas primeiro, aproveitem. E por favor, me atualizem de seu atual estado. Preciso que estejam em perfeitas condições, pois a próxima missão exigirá mais de vocês do que o que fizeram antes.

Descrevam como passaram os catorze dias, interajam e criem cenas. Haverá recompensa de XP para cenas e interações com NPC's e PJ's neste intervalo.
Att: Sábado.

Os Aventureiros:

Noldon Akhir, Patrulheiro 5, NM:

Elric Singmund, Campeão de Moloch 5, OM:

Ordo, Clérigo da Garra Divina 5, OM:

Vito Eminarken, Bardo 5, NM:

A Casa das Cinzas.

Vito fez questão de manter seu nome, pois assim era conhecida em toda a cidade. Vito havia se tornado um barão e com isso, muitas vantagens. Uma delas é poder olhar para cada um popular daquela cidade que o xingou, cuspiu e o jurou de morte e vê-los beijar sua mão vermelha sem luvas, revelando sua verdadeira face de tiefling.

Serei um governante de todos, atenderei suas questões, desde que saibam o seu lugar: abaixo de mim. Abaixo do arquiconde Darellus Fex, abaixo da Casa Thrune. Três vivas à Casa Thrune, à Casa Fex, e à Casa Eminarken.

Disse no diante da maioria do povo de Longacre. A maioria esmagadora gritou seus vivas sem muito entusiasmo, mas era o suficiente. O barão observou quem não gritou, quem cruzou o braço e quem cuspiu no chão discretamente.

Vito andava pelas ruas sempre acompanhado por Lion Banero, seu capitão da guarda junto de outros dois novatos no serviço, recrutados pela necessidade urgente de por prato de comida nas mesas de suas famílias e com espírito frágil o suficiente para serem endurecidos pela lei de Asmodeus. Apesar de Elric ter o comando do quartel e dos militares, Vito não fazia questão de se intrometer com eles, deixando os guardas separados. Lion era um guarda experiente, substituindo o outro que havia morrido em batalhas anterior do grupo.

Descontentes?

Se me permite a franqueza, senhor, sim. Muitos.

Ah, eles vão aprender. Vou cantar para eles aos finais de semana, não cobrarei nada.

Sim, senhor.

Ele nunca parecia animado, para o gosto de Vito. Sabia, o novo capitão, que Vito faria de tudo para atormentá-lo com trabalho. Descontentes deviam ser sempre espancados e, aos olhos de todos, multados. Mas aqueles realmente desrespeitosos seriam mortos. Sutil e discretamente, sem processo legal, nada. Ninguém saberia, nem seus superiores. Principalmente seus superiores.

Tenho grandes planos, grandes planos para cheliaxianos... um pouco de retribuição do que recebi em Egorian.

Agora que era um barão, Vito andava com seu rosto tiefling visível a todos e isso poderia causar desconforto à população e, por isso, ele andava com os guardas. Mas o barão queria mesmo forçar à população a sua real natureza. Depois de anos escondido, era uma glória usar seu verdadeiro rosto. Ninguém gostava dos tieflings por ignorância, pois ninguém era obrigado a ser um canalha filho da puta. Vito o era por convicção.

Durantes suas andanças, visitava algum figurão da cidade para selar alianças, ou pelo menos uma trégua. Todos o temiam, todos temiam a força dos Thrune, principalmente depois da derrota dos rebeldes. Todos estavam dispostos a se submeter, mas Vito sabia que opressão demais resultaria em revoltas futuras. Ele não era do tipo que gostava de manter os outros debaixo de seu chicote, não se importava muito com insubordinação.

Mas não aceitava de jeito nenhum desrespeito.

Os quatro sujeitos que não gritaram por vivas, não tiveram que responder a processo algum. Não pagaram uma multa. Não foram presos ou espancados. Apenas foram encontrados mortos em suas casas, sob "circunstâncias misteriosas".

Vito deixava sempre sua guarda particular do lado de fora quando visitava aquele distinto grupo. Sujeitos de baixo, trabalhadores conservadores, amantes da ordem e do poder diabolista, homens e mulheres que espiavam os grandes figurões e davam informações a ele, desde que chegara a Longacre. Foram cruciais para revelar os rebeldes. E agora eram úteis para ajudar Vito a encontrar possíveis descontentes.

Só que em sua postura, Vito nunca foi amante das leis. Sempre agiu à margem dela e agora como barão, isto não mudaria. Aos olhos de seus aliados e superiores, todavia, ele seguiria todos os planos. Quem não o respeitasse, a morte era certa. Sem perdão. Discreta e sutil.

Todos devem respeitar a Casa Eminarken. Logo algo terrível acontecerá... e o povo deve estar preparado.

Vito puxou a cadeira, sentou-se e pegou suas cartas. Os ar pesado de fumaça esvoaçava os rostos ali presentes, apenas um deles se destacava.

Pretende deixar a "fera solta"?

Estou solto, não vê?

Diante do silêncio do outro, Vito fez uma expressão dura.

O que decidi é que posso viver com minha condição. E não devo em nenhum momento, deixar ser tolhido para o que sou de verdade. Todos em Longacre, em Cheliax, saberão quem é Vito Eminarken.

Jogou suas cartas. Ganhava a rodada.

Haverá revolta, eu acho. Seria melhor...

Ele começou a recolher as cartas e moedas foram arrastadas pela mesa.

... controlar os danos, eu sei. Escolher alvos e me "soltar" sobre ele. Eu sei. Mas não. Pretendo passear à noite, observar o céu estrelado, a lua cheia. E acordar no dia seguinte em qualquer lugar. Onde você e seus amigos estarão cuidando de mim para que ninguém saiba. É isto que eu quero para mim.

O outro mostrou um sorriso e entregou cartas para todos.

Isso pode ser feito, claro...

Não era preciso verbalizar. Ele jamais deixaria claro para algum augúrio místico sua intenção, ou algo que fosse claramente usado contra ele depois. Vito entendeu, é claro. Não se importava em falar. Principalmente agora, um barão.

Serão financiados, não se preocupe. Caso precisem de outro favor, é só falar comigo. Dos meios de sempre, nunca com alguma audiência...

... é claro.

Dessa vez, Vito perdeu a mão. O tiefling sorriu e se levantou depois de sorver todo o vinho da taça do homem.

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Estava diante do Arquiconde, braços cruzados, o rosto as vistas. Tinha se acostumado rapidamente com isso. Cumprimentou Elric e Ordo com acenos de cabeça contidos e, quando viu o sujeito novo, sorriu para ele e acenou com a mão. O cheiro de comida deixou Vito animado. Mesmo como barão, não havia como comparar o nível das cozinhas da Casa de Cinzas com o palacete de Darellus Fex. Vito comeu com calma, mas sem modos como sempre: seus braços mais compridos que o normal, seu jeito desajeitado, as mãos grandes pegando pães inteiros e mordendo um, depois outro. Por fim, vinho. Vito só bebia vinho desde que fora coroado.

Vito ouviu o chefe falar enquanto bebia o vinho, limpando a boca com as costas das mãos. Não se incomodou pelo erro do Arquiconde com o seu nome. "Eminark" era o nome de seu maldito pai. Eminarken era uma singela "homenagem" a tudo de ruim que ele faria com o nome.

A pergunta de Darellus sobre suas "condições atuais" soavam como um teste. Ele já sabia, provavelmente, de tudo, mas testava a lealdade de todos. Vito não se sentia obrigado, nem gostava disso. Mas sabia que este era o caminho que escolhera e que seguiria para ganhar poder. Afinal, tinha um pai poderoso para destruir.

Fui mordido por Bolgart, senhor. E acho que estou amaldiçoado. Fora isso, estou em perfeitas condições.

Isso pode ser inconveniente. Posso encomendar tratamento para você, barão Eminarken. Cobrarei nos impostos repassados de Longacre.

Vito pareceu se surpreender com aquilo. Havia cura? Vito descruzou os braços, pensativo. Havia feito planos com seus rapazes...

Bom, eu aceito, meu senhor.

Disse com um tom cansativo de lamento. Depois lidaria com seus rapazes com as novidades.

Noldon era um homem alto, seu corpo mais esguio que forte sob roupas pretas pesadas. Carregava armas, espada e um arco longo, além de uma mochila pesada. Estava com botas sujas e não se importava em estar sujando o tapete do arquiconde em seu palacete.

Seus cabelos eram negros como ébano e sua pele pálida, amarelada. Era um taldano, mas viveu muito tempo distante das pradarias ensolaradas. Antes, procurava as florestas densas, mas há algum bom tempo trabalhando para os Thrune, Noldon vivia em casernas, casas grandes e em masmorras escravistas.

Noldon nunca planejou ser um escravocrata. A vida o levou para essa direção e um sentimento sádico de satisfação em ver sofrimento alheio e liberdade em claustro.

Era o modo como ele se vingava do mundo.

Por isso, dias atrás, quando sua espada abriu a cabeça do rebelde como uma melancia, Noldon rosnou em um sorriso cheio de dentes. Muitos dentes. Pois quando ele caçava, ele revelava o lobo. A transformação que o tornava um homem-lobo, um lobisomem, licantropo, troca-peles ou outros nomes que assustavam o populacho. Noldon virou-se para os outros cativos, todos amontoados em um canto, sujos de lama e olhares de terror.

Noldon

Isso é o que acontece quando se tenta escapar do seu destino.

Disse com satisfação. Ninguém se mexia. Noldon apertou o punho da espada e a ergueu ameaçadoramente com uma mão e todos se levantaram. Mas ninguém correu, ou fugiu. Sabiam que ele os encontraria.

Assim, Noldon conseguiu matar alguns rebeldes e impedir que escravos fossem libertos. Esmagar sua esperança, ver o brilho dos olhos deles apagarem era o que Noldon fazia. Não só por obrigação, mas por prazer mesmo.

De volta ao palacete, Noldon se surpreendeu com o tiefling. Já trabalhava há muito tempo em Cheliax para saber que ali ninguém gostava de sua estirpe. O patrulheiro escravagista coçou sua barba por fazer, pensando que Longacre era um lugar interessante. Um barão tiefling. O que mais poderia mudar?

Os outros dois eram cavaleiros infernais, uma ordem que Noldon não conhecia muito bem. Mas sabia que eram respeitados. Porém, antes de Noldon falar algo, o tiefling Vito Eminarken revelou ter sido mordido por alguém e estar amaldiçoado. Noldon já ouvira sobre isso.

Noldon

Maldição? Hm, é um modo de ver as coisas, certamente. Mas você tem escolha.

Tenho? Tenho. Até pensei em manter esta condição e me deixar livre pelas ruas de Longacre... mas devo obedecer ordens superiores. Não é bom deixar-se levar pelo monstro interior, não é mesmo?

Noldon balançou a cabeça lentamente com um sorriso de canto.

Noldon

De fato, não dá pra se deixar levar. No meu caso, meu monstro interior sou eu mesmo. O que vocês veem aqui é apenas uma máscara.

E então, rosnou. E seu corpo ganhou pelos, o rosto alongou-se e sua transformação em homem-lobo veio rápida.

Noldon

Este é o meu destino, o verdadeiro eu. E hoje, graças a marca dos Thrune, encontro propósito.

Não era inteiramente verdade. Seu propósito era outro, mas devia dançar conforme a música na frente do arquiconde.

Você... consegue controlar a licantropia?

Noldon

Não sou um licantropo. Sou fruto de... experimentos. De Ustalav.

Vito observou em silêncio por um momento.

Temos você. Não precisamos de outro como você. Estou bem sendo apenas um meio-diabo.

Havia um sorriso malicioso em seu rosto.

Noldon voltou ao normal, até para poder aproveitar as guloseimas da mesa de Darellus Fex.

Noldon

Estou em plenas condições. Capturei escravos faz uma semana e eliminei os rebeldes libertadores na frente de todos para servir de exemplo. Esse grupo de escravos não tentará fugir por um booom tempo.

Disse trivialmente ao arquiconde, comendo um prato de massa recheada de carne de cocatriz, desfiada em creme.

Elric se decepcionou depressa ao retornar para acompanhar o teste de Ordo. Ele sempre o viu como uma figura aquém das expectativas, alguém que não tinha a imposição necessária, nem a garra necessária. Era tragicômico pensar daquela forma, tendo em vista o nome de sua ordem. Durante a invasão da base rebelde nas árvores, ele tinha tombado de maneira rápida, embora tenha sido de valia na luta contra Lencia. As vezes que tentou dar ordens para Elric, soavam ridículas, quase uma falta de respeito, mas ele tinha se redimido no fim. Mas assistir seu teste, ter dado mais um voto de confiança de que eles passariam a se ver como iguais, foi uma decepção. Continuava um armígero e Elric mais uma vez o via como um capacho inferior.

Nos dias que seguiram, Elric passo a ser visto como um cavaleiro infernal de fato, um tenente do exército do império. Ainda usava o posto da milícia até que surgisse instalações apropriadas. No dia seguinte ao seu teste, foi procurar o mago que tinha lhes dado abrigo, afinal, aquele maldito Bolgart tinha deixado um presente desagradável.

Maldições? Que tipo em particular, se me permite?

— Do tipo que o transforma em uma homem-urso sanguinário.

Ah, teriantropia. Eu tenho um bom tratado sobre teriantropos de Alandoquoir Bidloncot, o brilhante zoólogo gnômico. Ele passou um bom tempo estudando as populações de homens-rato e lobisomens de Varisia. Viver entre selvagens em nome de seus estudos é um dos mais bravos sacrifícios que um homem pode fazer.

Elric não tinha certeza se ele os chamava de selvagens por serem teriantropos ou pior, varisianos. Não importava.

— Fascinante, homem. Mas o que me interessa é se existe uma cura para isso nesse seu livro.

Depende se a doença foi contraída ou se o observado já nasceu defeituoso, geralmente resultado de procriação livre entre doentes. Se for natural, apenas milagres divinos podem removê-lo. Se for um infectado, meus estudos dizem que a matalobos pode ser usada para matar a maldição.

— Matalobos? O que é isso?

Uma erva venenosa. É perigosa, mas o veneno tem como efeito colateral a capacidade de matar a besta se o infectado sobreviver o consumo.

Elric ponderou, depois olhou em volta.

— Qual o seu negócio aqui exatamente, homem?

Negócio? Além de aceitar ajudar pessoas em nome de Thrune vez ou outra como um bom patriota? Viver do dinheiro que consegui com meu tempo no exército e minha aposentadoria militar.

— Gostei do começo de seu discurso. Acha que poderia conseguir essa matalobos para mim?

Posso encomendar de alguns amigos em Egorian. É rara e cara, então não lhe garanto, mas meus contatos devem conseguir.

— Tenho certeza que conseguirão, meu amigo, porque sou eu que estou "pedindo". Eu quero duas, se possível, claro. Mande uma notícia quando tiver algum retorno.

Entrarei em contato.

Elric não falou mais nada, apenas girou e saiu. Os últimos dias eram morosos, mas ele tentava não ficar ocioso. Organizava treinamentos, praticava exercícios. Sabia que provavelmente não teria notícias daquelas planta até antes da primeira lua cheia, então teria que lidar com aquilo. Se o mago falhasse, daria outro jeito, embora ainda se lembrasse. Passava as noites com Cimri, em quase rituais de puro sadomasoquismo, a fodendo de maneiras cada vez mais inusitadas, de todas as formas possíveis, enquanto ela retribuía com dor e prazer na mesma medida.

Certa manhã, sentiu a ardência de sua marca, a hora tinha chegado. Se encaminhou para se encontrar com os demais. Vito estava diferente desde que tinha se tornado um barão , não tinha mais receio de mostrar sua face. Elric tinha cruzado com ele poucas vezes desde então, mas não tinha parado para conversar e nem nada do tipo. Ordo também estava lá e sua postura lhe dava pena. Havia uma nova figura, algum agente externo que se juntava a eles. Era um animal, ao que parecia, se exibindo com aquela transformação grotesca. Ainda assim, talvez fosse melhor que Pavo.

— Eu estou bem — respondeu — mas já deve ser conhecimento que também fui mordido durante a batalha... mas já estou cuidando disso e darei um jeito, meu senhor. De resto, estou pronto para cumprir com meu dever.

Silêncio, foi a escolha de Ordo após o teste, sua carne e mortalidade um obstáculo e cada vez mais o desejo de imortalidade aumentava.

A igreja da herege estava decadente, tal como sua ordem atualmente.

Não deu sermões, teria que discutir a melhor forma de manter aquela turba sobre o controle, sua fé estava presa as noções torpes de liberdade advinda do caos.

Então veio o banquete, era em honra de Vito o novo barão da cidade? Ou o desejo do Arquibarão?

Ordo apenas iria apenas seguir as ordens dadas.

A igreja foi corrompida pelos rebeldes e aquela herege, pior ainda não há traços de qualquer item litúrgico além daquele empunhando por aquele cadáver inútil herético.

Falou enquanto via o novato, se apresentou e então voltou a falar.

Não sinto capacidade de liderar a fé dessas pessoas, para mim os dogmas de liberdade é para o pós vida, em vida devemos apenas seguir as leis que são sempre justas de acordo com os líderes decidem.

Foi a única coisa que podia falar.

12 de Abadius, 4716, Manhã

Suponho que posso ajudar de outra forma com seus... problemas. Se seu novo companheiro, Noldon, aceitar, claro.

Sorveu do vinho.

Existe um ritual antigo. Proibido, claro. Herético por quase todas as fés de Avistânia e Casmaron. Eu o conheço por minhas próprias viagens pela Vastidão Mwangi. Uma transferência da fera. Eu poderia tocar suas almas e passar o poder bruto bestial em seus interiores para um hospedeiro que já possui algo feral em si. Noldon provavelmente teria um maior controle do poder bestial dentro de si. O ritual deve ser feito na lua cheia, então esta é a única vez que farei a oferta.

Mais uma vez, ele bebeu. Estalou os dedos, e um serviçal trouxe uma caixa dourada para ele. Sabiam o que estava dentro. Sentiam. A pedra de Malebolge sobre a qual haviam jurado seus corpos para Thrune.

Mas antes, repitam seus juramentos, se assim estiverem dispostos. A operação contra a Rebelião - e a captura dos agentes abolicionistas - foram seus testes. Se de fato estiverem dispostos, jurem seus corpos permanentemente à Casa Thrune, até o fim de suas vidas. Se quiserem recuar, ainda trabalharão conosco, mas saibam que não terão as mesmas... oportunidades.

Att: Quinta

Os Aventureiros:

Noldon Akhir, Patrulheiro 5, NM:

Elric Singmund, Campeão de Moloch 5, OM:

Ordo, Clérigo da Garra Divina 5, OM:

Vito Eminarken, Bardo 5, NM:

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Vito ergueu a mão para coçar a bochecha.

Sua expressão paralisada, olhos mansos, a boca molenga.

Então:

Senhor, ó, senhor, eu... eu... eu adoraria passar adiante essa maldição. Se Elric já está tratando do jeito dele, eu não tenho os mesmos recursos pra isso. Aceito, ó, aceito. Não importa o quão proibido seja. E, para isso, eu ofereço meu corpo para a Casa Thrune. Afinal, sei que podemos nos ajudar. Eu tenho minha demanda também, sabe. Sei que meu momento chegará.

Noldon

Eu... hum...

O capataz não parecia certo daquilo. O que o assustava? Mas Vito estava disposto mesmo a fazer isso. Tanto que oferecia seu corpo aos Thrune em troca - mesmo que a oferta já estivesse na mesa antes.

Dessa vez, Vito queria um pouco de garantias de Darellus Fex. Será que poderia mostrar algum indício de que sua mão também seria molhada?

Me parece que temos um acordo. Noldon?

A falta de menção à sua proposta deixou Vito um pouco contrariado. Mas ele sabia esperar. E então, virou-se para o capataz.

Será melhor para você e para mim. Deve confiar nas palavras do arquiconde, Noldon. Sem dúvidas.

A verdade era que Vito gostava de sentir que estava avançando em seu projeto pessoal. Angariando poder e evoluindo na hierarquia Thrune. Porém, a maldição seria bastante desagradável para ele, um contratempo que poderia ser perigoso.

Embora talvez fosse divertido em Longacre.

Não. Era muito perigoso.

Vito tirou de suas vestes a máscara de caveira e a observou por um momento, como se não estivesse mais prestando atenção ali.

Noldon pegou uma taça e encheu de vinho quando ouviu a proposta do arquiconde. Ficou em silêncio, pois suas palavras haviam sido jogadas ao ambiente.

Não queria pensar nisso na hora.

Mas Vito o interrogou. Noldon sorveu um gole longo de vinho. Balbuciou. Não teve tempo para pensar. Darellus Fex parecia querer saber na hora.

Noldon

Eu... bom.

Balbuciou de novo.

Por que a demora em responder?

Noldon havia sido transformado contra sua vontade em um homem-lobo. Fora alvo de torturas. Pensar em uma nova transformação, dessa forma amaldiçoada, tocava em traumas antigos. Noldon não sabia responder ao certo, então, preferia saber mais.

Noldon

Este ritual, senhor, há chances de que eu não tenha controle da minha transformação?

Indagou firme, mas havia uma gota de suor em sua testa.

Apenas se forçar a fera além do que o homem consegue. Você conhece seus limites, Noldon. Saberá se for perder o controle.

Palavras muito interessantes. Noldon tinha esse conflito interno. Aceitar o monstro interior, imposto pelos cientistas de Ustalav. Agora fazia parte de quem ele era. Já havia abraçado antes, agora, teria um contato maior ainda. Era sua identidade.

Noldon sorriu.

Noldon

Eu aceito, então, meu senhor.

Elric se manteve em silêncio. Primeiro olhou com desprezo para o que Ordo falava então fitou Vito. Aquela fala mole e bajuladora, parecia que o tiefling tinha trocado uma máscara por outras. De qualquer forma, o cavaleiro infernal não se pronunciou sobre aquele ritual. Não passaria seu fardo para ninguém, até mesmo porque estava daquela forma pois se deixou morder, porque não fora forte o suficiente. Era estranho o tal do Noldon aceitar algo como aquilo. Elric virou o rosto.

— Eu reforço meus votos, senhor, certamente.

12 de Abadius, 4716, Manhã

Primeiramente, peço que assinem este contrato com seu sangue. Isto é seu juramento.

Contratos foram entregues ao grupo. A pena possuía uma ponta, como uma adaga, e permitia que furassem o próprio dedo para escreverem. Um contrato escrito em sangue, jurando seus corpos e vidas à Abrogail Thrune. Quando a assinatura fosse feita, sentiam algo diferente em si. Estavam conectados. Entre si, e à Fex. E com algo maior que todos eles. Enquanto fossem leais, teriam vida.

Eram Leais.

Uma vez juramentados, Fex deixou que Razelago, novamente se revelando desfazendo sua invisibilidade, falasse:

Olá senhores. Sejam bem vindos novamente. Eu serei direto sobre sua nova missão: Kantaria caiu para a rebelião.

Kantaria. Ordo e Vito conheciam bem a cidade. Palco do Décimo Ato santo de Iomedae, que governou a cidade por um ano e um dia. Era um lugar santo para todos que seguiam a deusa.

Por toda Cheliax, agentes e tropas enfrentam as forças da Rebelião, com foco em Senara. A presença e domínio da rebelião em Kantaria fortalece sua causa, mas não há nada que Cheliax possa fazer agora... Exceto por nossa pequena facção. A operação de vocês será se infiltrar em Kantaria e destruir a cidade... por dentro. Sabotagem, inteligência, espionagem. Uma tomada bruta criará mais mártires. Vocês sabotarão Kantaria, e Cheliax tomará a cidade como seus salvadores. Se infiltrem na igreja, na liderança.

Seu contato será uma antiga aliada minha. Uma expatriada de Nidal, Loredana Viorica. Ela me deve. A cobertura de vocês será como seus defensores contratados. Apenas vocês e Loredana saberão disso. Essa missão é pela alma de Cheliax.

Todos recebem o talento especial Agente Leal de Thrune: Recebem os efeitos do talento Duro de Matar. Aqueles que já tiverem o talento reduzem a CD de testes de morte para 8+ Nível de Morrendo. Uma vez por semana, se o Agente Leal de Thrune for reduzido à 0 PV e ganhar nível de Morrendo, ele ganha Regeneração 1 por um minuto.

Att: Domingo

Os Aventureiros:

Noldon Akhir, Patrulheiro 5, NM:

Elric Singmund, Campeão de Moloch 5, OM:

Ordo, Clérigo da Garra Divina 5, OM:

Vito Eminarken, Bardo 5, NM:

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A lealdade aos Thrune através de Fex não agradava Vito. Ele gostaria de ser mais independente, mas por fim, se via mexendo com poderes grandes demais para prosseguir em sua vingança com escárnio.

O futuro, entretanto, era uma página em aberto, uma canção sem refrão.

Vito assinou com seu sangue e sentiu aquela ligação iminente. Encarou Noldon, sentindo-se contrariado a se ligar a alguém com quem nunca vira antes. Mas ter Elric e Ordo como aliados o deixava menos preocupado. Principalmente com o campeão de Moloque.

Razelago tinha novidades, além da dele próprio, saindo da invisibilidade.

Kantaria, hum? Foi onde Iomedae supostamente determinou seu Décimo Ato, governando por um ano e um dia. Lugar sacralizado para os devotos da Herdeira.

Disse aos outros, pois imaginava que eles não faziam ideia sobre algo histórico.

As novas ordens pareciam ser do jeito que Vito gosta, refletindo em seu sorriso triste costumeiro. Seus braços alongados observavam sua máscara repousada em suas mãos sobre o colo, enquanto a conversa fluía.

Temos que conhecer os líderes da rebelião, atores próximos e descobrir seus podres. Todo mundo tem um desejo intrínseco ao egoísmo, bastamos desmoralizar alguém importante e colocar um aliado contra o outro. Espalhar rumores... Devotos de Iomedae são tolos, não percebem a hipocrisia filosófica de sua deusa, então não serão convencidos com palavras. Devemos revelar a verdade através de dissimulação.

O bardo raramente falava tanto e, muito menos, explicitava suas ideias tão claramente. O baronato o deixou mais a vontade.

Vito comeu pouco, algo em sua máscara chamava seus pensamentos. Ele falava, mas seus rosto inclinado para o colo encarando sua máscara davam a impressão de desleixo, ou pelo menos de falta de atenção à conversa, contrariando suas palavras.

Noldon hesitou um pouco para assinar, mas sabia que as vantagens ao se tornar servo de Abrogail Thrune só traria vantagens. Servir era incômodo, tirava um pouco de sua vontade, mas ele sabia que poderia continuar fazendo o que lhe dava prazer: tirar a liberdade dos outros, ver o sofrimento alheio.

O bestiano, então, pegou a adaga após Vito e furou seu dedo. Escreveu seu nome.

Noldon

Hum, assim é melhor.

A conexão forte que sentira o agradou. Sorriu de canto olhando com uma expressão apática aos demais.

Razelago surgiu do nada, fazendo Noldon mudar a expressão. Não estava acostumado a ser pego desprevenido dessa forma, nem mesmo por um ínfero. Noldon cruzou os braços e encarou aquela criaturinha com certo desprezo.

Então, Vito explicou um pouco do plano e Noldon olhou para Elric. Por sua postura, achava que o cavaleiro infernal liderava a contenda, mas Vito parecia mais inteligente para tal.

Noldon

Podemos falar com Loredana Viorica e perguntar para ela sobre esses tais líderes e saber seus podres, não é? Bom, mais uma coisa: por questões práticas... quem liderará nosso bando?

Estava em dúvidas reais se era o barão ou o cavaleiro infernal.

12 de Abadius, 4716, Manhã

Isso pode ser decidido por vocês. Eu apenas espero que sejam céleres. A viagem até lá é demorada. Nove dias montados em cavalos é o mais rápido que consigo vê-los chegar. Uma vez por semana quando estiverem lá Razelago irá até lá coletar informações que conseguirem e levar suas ordens. Criem histórias para vocês. Quando começarem esta operação, não serão vocês mesmos a maior parte do tempo. Desenvolvam seus disfarces e garantam que os outros não poderão causar a falha destes. Vocês provaram que tinham poder. Mas Thrune precisa de mais que isso.

Quando acabassem a discussão, restaria apenas o ritual para a transferência da fera, que seria executado de noite. O arquiconde se retirou, deixando dinheiro para que comprassem suprimentos para trás. Tinham de se conhecer e começar a discutir. Planejamentos seriam extensos.


Em uma câmara escura, estavam posicionados. Os infectados pela vil doença da selvageria e o predador natural que teria suas presas tornadas ainda mais afiadas. Quatro garotas jovens estavam presas, nuas, lágrimas escorrendo de seus olhos. Quando Fex começou os encantamentos, a escuridão se tornou completa. Nada viam, apenas sentiam seus corpos queimarem. Vomitaram, sentindo o gosto de sangue na boca enquanto vozes e mais vozes se manifestavam das sombras. Olhos vermelhos os encaravam, vindos de todos os lugares. A cacofonia de gritos e cânticos diabólicos era ensurdecedora para todos - exceto Noldon. Para ele, tudo era claro. Naquele momento, se via como um predador, e só se viu saciado quando ao fim do ritual, as drogas colocadas em seu corpo perdendo seu efeito, o gosto do sangue e carne humanos em sua boca e fiapos de cabelos loiros ainda em sus garras e dentes.

O ritual o levava ao êxtase.

Quando tudo passou, não havia mais a mácula em Elric ou Vito. Mas Noldon se sentia eufórico.
Talvez fosse a magia. Talvez fossem as drogas.

Mas poder corria em suas veias.

Noldon recebe a seguinte habilidade

Mudar de Forma (Concentração, Primal, Polimorfo, Transmutação)
Frequência: Uma vez por dia para cada cinco níveis do Personagem
O teriantropo troca para sua forma animal, híbrida ou humanoide. A sua forma natural é
a humanoide. Em sua forma híbrida você ganha habilidades baseadas no seu tipo de
Teriantropo. Em sua forma animal, você perde acesso aos seus ataques de arma, mas
ganha a velocidade e ataques que a base animal tenha. A transformação voluntária dura
um minuto. Caso tente forçar ficar mais tempo nessa forma, corre o risco de perder o
controle, tendo de fazer um teste de Vontade contra uma CD difícil baseada em seu nível
+1.
Em sua forma híbrida, você recebe os seguintes ajustes:
.Aumenta uma categoria de tamanho se o animal base for maior que médio
.Aumenta CA, bônus de ataque, CD’s, resistências, Percepção e modificadores de perícias
físicas em 1
.Aumenta o dano de Golpes e habilidade ofensivas em 1
.Ganha PV’s temporários baseado na tabela
.Ganha Fraqueza contra Prata baseado na tabela
.Ganha os seguintes ataques e habilidades especiais:
Na forma Híbrida ataque de Mordida com dano base 1d8; Um ataque de Garras com dano base 1d6 e o traço Ágil
Na forma de Lobo, o ataque de Mordida ganha o traço Tombar
Ataque de Matilha O lobisomem causa 1d6 de dano extra a qualquer criatura que estiver no alcance de pelo menos dois aliados do lobisomem
.Recebe Empatia com Animais para Lobos.

Att: Terça

Os Aventureiros:

Noldon Akhir, Patrulheiro 5, NM:

Elric Singmund, Campeão de Moloch 5, OM:

Ordo, Clérigo da Garra Divina 5, OM:

Vito Eminarken, Bardo 5, NM:

Elric ouviu aquilo em silêncio. Haviam tido sucesso em repelir a rebelião ali, mas não poderia esperar a mesma eficiência de todos, em todos os cantos. Ele fez como lhe fora solicitado e assinou o contrato com sangue. Em breve sairia em missão, de novo, algo mais sútil daquela vez. Algo diferente. Encarou Noldon perante sua pergunta.

— A hierarquia militar e dos Cavaleiros Infernais é independente, Noldon. Nós somos iguais perante os Thrune... Até certo ponto — terminou encarando o questionador e Ordo — Mas tenho liderado este grupo até o momento em campo.

Ele então se afastou, para que o próximo assinasse. Precisava se preparar para o que viria a seguir.

***

Os momentos antes da partida foram intensos e incluíram um ritual, o ritual para retirar a fera do corpo de Ordo e Elric, a transferindo para Noldon. O cavaleiro infernal viu um pouco de valor no sujeito, afinal de contas. Se despediu de Cimri, uma vez que a moça iria partir em outra missão e tratou de comprar alguns suprimentos. Guardou sua armadura de cavaleiro infernal em uma mochila que comprou especialmente para ela e prendeu ao cavalo. Adquiriu uma outra armadura completa simples e sem sinais de afiliações. Comprou rações para muitos dias e algumas poções antes de partir.

Compra uma armadura completa por 30 po
Compra 3 semanas de ração por 12 pp
Poção de cura menor x5 por 60 po
Compra uma mochila por 1 pp

Quando Elric se afastou, Vito confidenciou silencioso a Noldon:

Ele é quem manda. Mas sou barão agora, então eu dou as cartas no que concerne Longacre. Ele é militar, ele manda na batalha, entendeu?

O arquiconde se retirou deixando uma bela quantia em dinheiro sobre a mesa e Vito não se furtou em se apossar dela. E, fingindo levar tudo embora consigo, Vito parou rindo e balançando a cabeça. Pegou só sua parte.

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O ritual da noite o deixou eufórico. A sensação única em sua vida o deixou com um sorriso débil. Vito viciava-se em novas sensações: dolorosas ou prazerosas, não importava. Ao final, observando os corpos caídos, ele apenas se ergueu, arrancando suas próprias roupas.

Seja bem-vindo a Longacre, Noldon. Este é seu rito de passagem... e a vocês, sugiro... não, eu digo que vamos partir após o almoço. Assim, teremos tempo o suficiente para comprar coisinhas.

E saiu dali, pelado, andando com sua guarda para a Casa das Cinzas.

----

Vito reuniu-se com os demais em sua casa para o almoço com certo requinte. Porém, seus servos ali não pareciam os mais tradicionais: vestiam roupas manchadas por tintas coloridas e maquiagem branca em suas faces, com traços vermelhos muito fortes em seus lábios. Vito recebeu cada um com sua máscara demoníaca e a tirou apenas para o almoço, repousando-a sobre a mesa.

Após o almoço em que Vito comeu silenciosamente e sem refino algum que se espera de um barão, os chamou para o salão de conversação, onde um ou dois quadros de chelaxianos importantes manchados com grafite com palavras em infernal estavam dispostos nas paredes. Vito vestiu a máscara de novo.

A mobília ainda está sendo escolhida, portanto, não se incomodem em ficar de pé. — Ele pigarreou exageradamente antes de continuar: — meus caros, ouviram o arquiconde. Nós vamos nos disfarçar para este plano, fingir sermos outras pessoas como atores de um teatro. Sei que Elric e Ordo são tão bons interpretando como rochas e de desenvoltura refinada como elefantes em uma loja de espelhos. Mas podemos fazer isso dar certo se mantiverem a boca fechada e engolir orgulhos quando eventuais insultos ocorrerem.

Vito perambulou com seus braços compridos de mãos entrelaçadas nas costas, encarando o chão. E então, parou diante de Noldon.

Você tem um trunfo, Noldon. Pode ser uma besta, uma fera, um animal horrível, causar algum desconforto, alguma distração caso seja necessário. Fora isso... você é um capataz, não é? Não podemos deixar que algum escravo o reconheça. Você envelhecerá. Será um idoso barbudo de cabelos brancos chamado Asmolon. — Virou-se para Ordo — Clérigo, você vai por uma peruca. Um bigode e um tapa olho: Pitágos será seu nome. — e virou-se para Elric — senhor cavaleiro infernal, será um cavaleiro errante, mercenário bandido líder do nosso bando contratado por Loredana Viorica e seu nome será Klisman. Eu serei um tiefling renegado... ninguém me conhece longe de Egorian. Enquanto estiver sem minha máscara, me chamem por Eminark. Serei Vito apenas mascarado.

Terminou sua caminhada em círculo batendo palmas para chamar um servo maquiado. Comentou em seu ouvido algo e então, após ele se retirar, voltou a falar:

Vamos aos cavalos e vamos partir. Algum destaque?

Farei todos os testes de Personificar nos PJs quando estivermos perto da cidade indicada.


Recebi 270 po
Compro couro batido +1 (160 po), indo de CA 21 para 23
Compro echarpe dançarino (60 po), aumentando a perícia Performance para +12.
Compro kit de disfarce de elite (40 po), aumentando Dissimulação para Personificar em +1.
Compro 3 semanas de rações de viagem (12 pp)
Sobram 10 po e 12 pp do pagamento +3 po e 5 pp que já tinha, estou com 12 po e 7 pp

Noldon

Hum...

Respondeu a Elric sobre sua questão.

Noldon

Hum...

Respondeu também a Vito sobre sua questão.

O ex-capataz mostrou um sorriso lupino na escuridão.

Havia algum tempo até a noite marcada para o ritual, mas Noldon não tinha interesse em ser um turista em Longacre. Ficou em algum canto pertinente a ele até a hora da noite, contando suas moedas do pagamento do generoso arquiconde.

Durante o ritual, Noldon deixou a fera surgir. Já estava acostumado à transformação, mas dessa vez, algo estava diferente. Noldon sentia certo prazer nos gritos do sofrimento alheio, prática que adquiriu com seus anos de capataz, mas era apenas isto.

Agora era diferente. Agora era a sua fera interior quem regozijava em clamor pela dor das mulheres sacrificadas. Noldon não percebeu que havia se transformado, por mais que tudo estivesse claro desde o começo. Parecia tão óbvio. Seu destino sempre fora esse, desde quando era um frágil rapaz de Ustalav com uma família maldita a querer curar uma irmã doente.

Mais uma surpresa: viu-se devorando as mulheres quase sem controle. Para, então, sentir o controle. Seu corpo estava mais musculoso, resistente, rápido.

Uivou tão alto que as janelas de outros lugares distantes tremeram.


Estava na Casa das Cinzas do barão Vito com os braços cruzados. Havia gasto a manhã toda em busca de equipamentos melhores e conseguira um arco e uma armadura mágicas, embutidas de runas. Satisfeito com a melhor eficácia, não se preocupava com a ausência de moedas em seus bolsos. Na longa viagem comeria apenas o que caçasse, como sempre fizera nos tempos de caçador em Nirmathas.

Depois de almoçar, olhando aqueles servos estranhos do barão, Noldon se reuniu com os demais na sala.

Vito deu seu pequeno show falando sobre seus disfarces. Noldon deixou um sorriso escapar.

Noldon

Sabia que Noldon ao contrário é Noldon? Heh.

Disse com um sorriso bobo, esperando que alguém entendesse a ironia. E então, descruzou os braços.

Noldon

O plano é um plano. Saberemos mais uma vez lá. Bem, eu vou seguir na frente com meu cavalo para averiguar o terreno. É o que posso fazer por vocês. Espero que ele não tenha medo do meu cheiro. Está mais forte que o de costume...

Disse balançando a cabeça com um sorriso malicioso.

Ação de Noldon
Compra placa peitoral +1 (160 PO) e arco longo composto +1 impactante (100 PO)

Exploração: Patrulhar

Não podia falhar de novo, foi o pensamento de Ordo.

Preferiu apenas observar de forma silenciosa e só se manifestou quando o Arquibarão falou.

Reforço meu votos, Senhor.

Respondeu de forma clara, sua maldição pesava, mas podia viver com aquilo até ter poder para quebrar, então preferiu gastar parte do dinheiro para reforçar suas defesas.

Mas a estratégia para destruir a cidade por dentro não era de sua competência, seguiria as ordens dadas apesar de imaginar uma forma de alastrar uma praga na cidade, mas teriam que manter os aliados imunes a isso.

Então finalmente notou Naldon e se perguntou se era realmente uma boa ideia ter ele como um aliado.

Só não caia como o Pavo.

Respondeu pela primeira e única vez ao novato, não que ele fosse melhor nisso.

Comprar um escudo de Aço 2 PO.

Armadura Completa 30 PO.

Runa de Potência de Armadura +1 160 PO.

Ferramentas de Curandeiro 50 PO.

Atividade de Exploração: Erguer Escudo.

Truques: Detectar Magia, Escudo Místico, Estabilizar, Luz, Pasmar.

Magia 1°: Curar x3.

Magia 2°: Curar x2, Criar Comida.

Magia 3°: Curar x4, Heroísmo.

22 de Abadius, 4716, Noite

Nove longos dias de viagem se mostraram exaustivos - mas sem grandes problemas maiores que isso. Talvez por sorte, talvez pela nação estar afogada em guerra em tantos frontes, conseguiram viajar pelas estradas sem grandes problemas. Encontraram tropas em marcha vez ou outra, mas estas souberam deixá-los passar. Quando cruzaram para o território tomado pelo inimigo tiveram de ser mais cuidadosos, mas com isso conseguiram chegar até Kantaria sem desperdício de recursos. Como indicado pelo arquiconde, seu ponto de encontro seria uma estalagem no extremo noroeste da cidade - o Pequeno Bosque-Escuro. Cruzaram o muro da cidade com os documentos falsos que haviam recebido do arquiconde, e atravessaram ruas muito bem policiadas. Elric logo notou que todos aqueles guardas eram soldados bem treinados e que haviam visto combate real. Perigoso.

A estalagem não estava cheia - pelo contrário, como o público principal daquela taverna era, segundo suas informações, viajantes de Nidal e Egorian - o local só tinha um outro hóspede, que havia alugado três quartos para si e seus contratados. Dessa forma, quando o grupo chegou, só a dona do local os esperava:

Vocês foram mais rápidos do que eu esperava. Pelo o que nosso amigo me enviou mais cedo, devo chamá-los de... São Pitágos, Klisman, Eminark e Asmolon, certo? Sejam bem vindos à Kantaria, mais novo lar de Revolução. Façam o que tiverem de fazer, sua estadia já está paga, mas algumas regras: não atraiam atenção indesejada para minha taverna; Só posso deixar que fiquem aqui enquanto não me forem problemas, fui clara? A cozinha fecha dez da noite, e não servimos álcool até depois do fim dos horários de trabalho. Aqui estão suas chaves. Sugiro que descansem por hoje, mas estou disponível se tiverem perguntas.

A pele pálida, cabelos escuros e sotaque extremamente forte não deixavam dúvidas de que era nidalesa. Loredana era alta - bem alta, da altura de Elric e Ordo - e bem magra, o que junto dos traços finos gritava sua origem nidalesa.

Pontos de Contra-Revolução: 0

Att: Terça

Os Aventureiros:

Noldon Akhir, Patrulheiro 5, NM:

Elric Singmund, Campeão de Moloch 5, OM:

Ordo, Clérigo da Garra Divina 5, OM:

Vito Eminarken, Bardo 5, NM:

Eminark, ao seu dispor.

O tiefling fez uma reverência singela, demorando-se na inclinação do corpo. Vito gostava de sutis críticas cômicas aos modos aristocráticos.

Patroa Loredana, como está a cidade hoje? Sei que está fervilhando com os ventos revolucionários, mas busco por especificidades... quais igrejas estão abertas, onde mora o prefeito, onde o povo gosta de se reunir... sei que não parece ser aqui. E se há algum tempo para o povo clamar por um bardo festivo. Eles tratam bem os não humanos? Sei que cheliaxianos não gostam muito de ínferos, mas se eles, como revolucionários querem se distinguir dos outros, talvez certos preconceitos...

E deixou as palavras se perderem ao vento.

Prefeito? Isso não existe mais. O governo da cidade é feito por um conselho democrático revolucionário.

Ela não conseguiu esconder o desprezo. Vito comprimiu os lábios e balançou a cabeça singelamente, empatizando com o desprezo.

Se gostam... Eles até tem um no conselho. Você vai se dar bem aqui.

Isso parece promissor. Obrigado, patroa.

Vito virou-se para Noldon com maquiagem que envelhecia seu rosto e lhe dava uma barba branca.

Já pode começar a levar nossas bagagens para o quarto, sim, Asmolon?

Considerava o lobisomem ainda um novato, alguém que precisava se provar ao grupo, mesmo ele sendo um agente de confiança dos Thrune, com a marca ritualística e tudo o mais. Vito não dava mesmo muita importância a hierarquias, embora não tivesse vontade de contrapor. Apenas seguia o fluxo e nesse movimento, via Noldon ainda abaixo dos demais.

Asmolon

Eu? Vai abusar das costas de um velho?

Dizia com ironia.

Asmolon

Estou brincando, ainda sou mais forte que você, arauto.

Sorriu marcando a maquiagem da face que o faziam parecer mais velho. Vito apenas o observou impassível, não aderindo àquela brincadeira.

Bem, vamos descansar, meus senhores. Amanhã, vamos andar pela cidade, o que acham?

Disse fazendo uma reverência exageradamente tosca para Ordo e Elric. Ou melhor, Pitágos e Klisman.

DISFARCES:
Noldon: Asmolon, um caçador grisalho e barbudo.
Elric: Klisman, líder mercenário, cavaleiro errante.
Ordo: Pitágos, clérigo que usa peruca, bigode e tapa-olho.
Vito: Eminark, tiefling normal.

Era exaustivo viajar por um país em crise. Tudo poderia significar um perigo, além das intempéries do clima e das ameaças tradicionais dos animais vigiando a noite vadia.

Noldon andava a cavalo à frente dos outros. O animal não parecia se incomodar com seu cheiro de lobisomem, mesmo agora com sua transformação completa. Durante a viagem, ele fantasiou lutas contra grandes adversários, sentiu o cheiro de carne fresca a distância e em certas noites, viu seus aliados como seres apetitosos. Menos o tiefling, é claro. "Carne de diabo devia ser horrível", pensou.


Quando chegaram, estavam diante de sua empregadora. Estavam ilesos e fantasiados como tolos, mas Noldon gostava do humor de Vito. Ou melhor, Eminark. Noldon, ou melhor, Asmolon, as vezes coçava o cabelo, mexendo um pouco com o pós que recaía sobre ele. Parecia apenas caspa. O seu rosto barbado também incomodava, mas no fim, não se importava com esses pequenos incômodos.

Só pensava que deveria se maquiar de novo depois de se transformar...

Asmolon deixou Eminark tratar com Loredana e ficou curioso com algo. Ele pensou um pouco antes de falar, com todo cuidado:

Asmolon

Democrático? O que seria isso mesmo?

Que as pessoas votaram para eles estarem lá. "Representantes do povo, erguidos pelo povo."

Asmolon

Interessante...

Resumiu-se a dizer. Noldon nunca teve pretensões políticas e suas regras, pois se considerava alguém alheio. Sabia, entretanto, apenas que a vida tinha uma única regra: a lei do mais forte.

O mais forte domina, o mais fraco obedece e sofre. Noldon tinha satisfação em fazer os demais sofrerem, mostrando que era forte, poderoso. Dominante. Seu sorriso apático manteve-se para Loredana por um instante antes de se virar para seus novos companheiros.

Asmolon

Me deem suas mochilas, senhores. E não se esqueçam da gorjetinha pro pobre velhinho...

A viagem não era o pior, Elric estava acostumados com os rigores das campanhas. Atravessar a parte que tinha poder também não era um problema, mas as coisas se tornavam um pouco pior depois quando chegaram no território controlado por rebeldes. Eles achavam que estava fazendo o bem, mas não enxergavam que só trazia a miséria e divisão desnecessária de uma nação forte. Aquilo deveria acabar. Não apostou em um disfarce como Noldon e nem passou se aproveitar para andar sem máscara como Vito. Entretanto cortou as pontas dos cabelos e os prendeu, limpou o rosto daqueles dias de batalha e nos nove dias de viagem, deixou a barba crescer, embora a parasse devidamente. Quando chegaram no ponto de encontro, o cavaleiro infernal mediu a mulher de cima abaixo e, enquanto ela respondia a Vito e Noldon passou ao seu lado, mirando a taverna, procurando algum sinal ou rotas de fuga.

— Muito prazer, eu sou Klisman... Sim, gosto deste nome.

Ele então virou a cabeça um pouco, a olhando de soslaio. Não lhe agradava em nada aquela história de "democracia". O povo escolhendo seus governantes... O povo era ignorante e limitado, não deveria poder escolher este tipo de coisa. Era uma receita para o fracasso. Elric então relaxou os ombros, deixando a mochilas penderem. Uma extremamente pesada, com a armadura da ordem lá dentro. Não entrava a espada que trazia na cintura, o escudo e o machado nas costas, entretanto. Estava com o braço estendido para Noldon. Sorriu com malícia.

— Não mendigue por fazer o mínimo, bom senhor.

Ordo não se importava com o disfarce por extenso, mas aquela maldita peruca o irritava.

Pitágoras ao seu dispor, que a saúde prevaleça.

Não iria expor suas crenças ali, então um aspecto menor dos Cinco seria o bastante.

As palavras sobre democracia eram no mínimas idiotas, claramente não entendiam que a natureza de liderar era um privilégio para aqueles que nasceram para isso e não uma escolha de pessoas que não conseguiam nem mesmo seguir um líder por direito.

Já preparei seu medicamento para as suas dores, Asmolon, então pode dormir tranquilo essa noite.

Respondeu apenas para manter aquela fachada, era bom não ter feito votos de nunca mentir.

Atividade de Exploração: Erguer Escudo.

Truques: Detectar Magia, Escudo Místico, Estabilizar, Luz, Pasmar.

Magia 1°: Curar x3.

Magia 2°: Curar x2, Criar Comida.

Magia 3°: Curar x4, Heroísmo.

23 de Abadius, 4716, Manhã

Era cedo na manhã, os primeiros raios de sol entrando pelas janelas dos quartos individuais dos agentes quando receberam o aviso que o café da manhã estava pronto. Noldon porém jurou ter ouvido algo gemendo de dor no meio da madrugada, e por apenas um segundo, como se fosse apenas uma impressão momentânea que tivesse desaparecido, jurou ter sentido o pungente cheiro de carne podre.

Desceram as escadas em qualquer ordem e encontraram uma mesa disponibilizada para eles. Loredana estava atrás do balcão, com cara de poucos amigos. Havia apenas um outro cliente, um homem trajado em mantos negros, alto e magro, sentado sozinho. Parecia familiar para Noldon. Tiveram algum tempo para se ajustar quando um homem em trajes coloridos entrou no local:

Os senhores Eminark, Asmolon, Pitágos e Klisman são convidados para um evento de desjejum na casa de Opian Nevilindor, comandante da Retomada Gloriosa e líder do Conselho Revolucionário de Kantaria. Lady Loredana também é convidada pessoalmente.

Tão rápido? Uma chance de conhecer a liderança? Haviam sido pegos?

O que diabos?!

E por que Loredana não parecia alarmada? Se qualquer coisa, parecia incomodada.

Pontos de Contra-Revolução: 0

Att: Sexta

Os Aventureiros:

Noldon Akhir, Patrulheiro 5, NM:

Elric Singmund, Campeão de Moloch 5, OM:

Ordo, Clérigo da Garra Divina 5, OM:

Vito Eminarken, Bardo 5, NM:

[/quote]

Noldon cutucava o nariz de maneira plácida quando sentou-se à mesa com os outros para o desjejum. Fez um meneio simples com a cabeça esbranquiçada para Loredana e então, comentou com os outros:

Asmolon

Vocês não sentiram o cheiro de carne podre ontem a noite? Talvez estivesse sonhando... afinal, meus sentidos estão mais aguçados à noite e o critério da verdade é o desejo.

Disse enigmaticamente.

Havia um sujeito estranho no lugar, alto e de preto. Com certeza não queria ser incomodado, embora parecesse familiar...

Noldon, então, se levantou e caminhou até Loredana.

Asmolon

Você não cozinhou ninguém aqui, não é?

Sussurrou para ela, fingindo pedir uma caneca de cerveja para o desjejum.

Que? Não! Matar e pior, cozinhar alguém numa cidade tomada de revolucionários de Iomedae? Quem seria tão burro?!

Asmolon

Conheço uns ou outros escravos que... bem, isso não importa. Mas senti cheiro de carne podre. E ouvi gemidos. Meus sentidos são bons...

Gemidos?

Por um segundo ela parece assustada.

Deve ter sido um pesadelo. Ontem não ouvi nada.

Noldon olhou desconfiado para a mulher.

Mas não teve como continuar a conversa. O arauto colorido chegou em seguida e Asmolon teve que cumprir seu papel retornando à mesa. Com um rápido olhar para a mulher, notando não estar nem um pouco preocupada, então aquilo não seria perigoso.

Asmolon

Bom, parece que coisas aconteceram ontem...

E não tocou na comida, preferindo comer à mesa de Opian Nevilindor.

Vito acordou no meio da noite suspirando. Um pesadelo envolvendo Velina Baradin sendo morta por seu pai. Porém, ele mesmo era seu pai, estendendo sua garra pelo pescoço dela, e fazendo um buraco em seu peito com a outra garra.

Não dormiu mais.

No dia seguinte, foi o último a aparecer. Parecia cansado, mas só parecia.

Muito bom dia a todos. — Disse logo antes de Noldon vir com suas estranhezas. — Olha meu senhor, você precisa tomar os medicamentos do Pitágos...

Complementou. Achou estranho ele ir conversar com Loredana e esperou o rapaz se sentar. Antes que o indagasse sobre seus assuntos, o homem em trajes coloridos apareceu os convocando para uma reunião muito perigosa...

E nós estamos honrados em aceitar o convite. — e, sussurrando aos demais na mesa — deixem que eu faço a conversa...

Não confiava em nenhum deles ali para fingimentos e diplomacia hipócrita. Dois homens sisudos e um aparentemente cão sarnento.

Mas ele fez um gesto para Loredana chegar à sua mesa.

Quem é aquele sujeito?

Falou sem apontar para o homem alto em preto.

 
Outro viajante. Um nidalês direto de Pangolais, Nicolae.

Falou com ele algo relevante para... você sabe.

 
Não, ele não sabe de nada. Apenas teve certos desentendimentos quando a revolução tomou a cidade e se viu preso aqui por hora, pelo o que entendi.

Talvez então possamos alinhar nossos interesses... consegue marcar uma reunião com ele para depois do nosso encontro fortuito com Opian Nevilindor?

 
Posso avisá-lo sim. Não custa tentar.

Perfeito...

Sorria. Estava gostando de andar por aí sem máscara.