Noite Eterna: Primeira Noite [ON]

O fato de seu mentor ainda conseguir acordar mais cedo que ele o surpreendia. Estava tão em toque assim com sua própria humanidade mesmo depois de tanto tempo? Ou estaria Uriel perdendo cada vez mais a sua? Não importava. Nunca fora humano, até aonde conseguia entender à si mesmo. Primeiro, seu mentor lhe perguntava o que achava de Magdala.

-O que penso de Magdala? Acho que é uma casa de espelhos. Aonde somos invisíveis aos outros, mas corremos o risco de perdermos à nós mesmos de vista.

Era verdade. Ele se sentia sob risco de se perder à todo momento ali. Esquecer quem era. O que era. De seu conflito eterno com o que Deus queria de si. Mas também via a vantagem nisso. Ele era invisível. E os melhores titereiros o eram.

E então a bomba. Ele abandonaria Magdala. Ficaria para Uriel e seus... irmãos, cuidarem dos terrenos de Judas. Se perguntava apenas uma coisa: "Ficarei com a igreja?" Era algo que o importava. Precisaria do lar e base que tanto conhecia naquele dia.

E então a ordem realmente incômoda.

Uma coterie. Uma maldita coterie. Ok, certo. Ele podia lidar com isso.

- Uma coterie, meu senhor? Se essas são suas ordens, às seguirei. Três dias então...

- São ordens para protege-lo.

Ele entendia isso. Não gostava, mas entendia. Aonde diabos iria conseguir formar uma, porém? Precisaria de um transporte. Precisaria ir até o Elísio.

A mera ideia lhe causava incômodo. Ou o Elísio ou aquele maldito clube. Necropolis. Tanto barulho. Mas não tinha opção, se eram as ordens de seu senhor. Mas era o que tinha de fazer, afinal. Elísio seria.

Miguel Alves Rodrigues

Miguel decide ir ao Necropolis, onde a juventude da Camarilla se reunia. Teria ele consciência de quão emblemático significava ele buscar a Torre de Marfim e não os Anarquistas?

Quando tentou dar a partida, entretanto, o motor rateou e não ligou. Ele tentou novamente. Na terceira tentativa o carro pegou, ele se preparou para partir, mas o carro desligou novamente. O celular tocou um sinal de mensagem. E de novo. E de novo. Quando ele finalmente pegou o aparelho, viu que havia três mensagens repetidas.

"Não se atrase."

"Não se atrase."

"Não se atrase."

Não havia indicativo da origem da mensagem – era como se tivesse sido enviado para si mesmo!

O carro ligou repentinamente.

Off:

Miguel Alves Rodrigues, Brujah, 10ª Geração Sem Ferimentos (0/7), PS(13) 11, Vont (7) 7. Experiência: 4

Carlos Rocha de Oliveira

Ana Júlia guiou o veículo pelo caminho até o endereço indicado. O carro parou no ponto indicado: uma casa fechada, com as luzes apagadas. Entretanto, tão logo ela estacionou o veículo o portão da garagem ergueu-se.

– Parece que estamos sendo convidados.

Off:

Carlos Rocha de Oliveira, Tremere, 13ª Geração Sem Ferimentos (0/7), PS(10) 08, Vont (7) 7. Experiência: 3.

Uriel Constantino

Uriel sabia que o Elísio estava fechado. Então restava o principal curral da cidade: Necropolis. Uma boate badalada no centro da cidade, também o principal acesso à Necrópole em si. Necropolis foi criado no final dos anos 70 por um Toreador Antitribu, mas foi reivindicado em batalha por uma coterie composta por um Brujah, duas Toreador e uma Malkaviana que efetivamente massacraram o Toreador e seu bando durante a Batalha de Magdala e receberam o clube como recompensa.

Seu Senhor entrou em um sedã negro guiado por seu próprio motorista e partiu. Quando Uriel se preparava para sair Dona Tereza trouxe uma carta.

– Isto chegou para o senhor.

Estava endereçado à Uriel, escrito em letras de forma. Abriu. Havia uma foto aérea da Igreja São José... com uma pequena mancha de sangue. Atrás dela estava escrito: "EU SEI O QUE VOCÊ É, EU SEI O QUE VOCÊ FEZ! Esteja no endereço abaixo às 02:00 de hoje ou todos saberão!"

Sentiu um calafrio e olhou para trás. Por um instante uma das sombras pareceu ter vida própria – e virou-se para ele! No instante seguinte não estava mais lá.

Off:

Uriel Constantino, Lasombra, 9ª Geração Sem Ferimentos (0/7), PS(14) 12, Vont (4) 4. Experiência: 3.

Parecia um filme de terror b, clichê e chato.

- Sim, mantenha-se atenta e siga.

Falou mantendo-se calma diante daquele encontro, já havia destruído as provas quando fora para o solar, mas a fonte podia criar mais.

Precisava ir ao fim do mistério.

Leonardo Shimazaki

O samisém soava acordes longos. Leonardo vestia um quimono negro com detalhes em dourado nas bordas, retratando um ryuu. A roupa era pesada e inadequada para o verão tropical, mas o calor era irrelevante para alguém como ele.

Parou à porta de madeira com folhas de papel e abriu-as cuidadosamente. Entrou no recinto. Aproximou-se da tana (uma pequena estante) onde estavam os utensílios que seriam utilizados na cerimônia: kama (panela), chawan (taça), chakin (pano para limpar a taça) brancos, hishaku (concha de bambu), uma navalha, curativo. Avaliou-os cuidadosamente, como se esperaria de um bom convidado. Então afastou-se e caminhou em passos curtos até o canto reservado a ele.

Cinco pessoas entraram a seguir. Vivos. Três mulheres e dois homens de feições asiáticas, muito bonitos. Ajoelharam-se e curvaram-se em cumprimento. Como esperado, Leonardo curvou-se ainda mais, tocando a testa no chão em agradecimento pelo serviço que seria prestado.

Os três postaram-se ao lado dos utensílios. Pouco depois a anfitriã entrou, na hora marcada: nove horas da noite.


Yukio Shimazaki, a Primógena dos Ventrue em Magdala, era conhecida por sua postura tranquila e firme, embora capaz de surtos de emoção intensa.

Com delicadeza ela limpa cada utensílio com um chakin. Por fim ela toma a navalha, acrescenta uma lâmina descartável e realiza uma incisão no braço de uma das mulheres, deixando com que o sangue escorra para a kama. Após alguns instantes ela curva-se para a mulher, que se afasta para um canto, sendo tratada por um dos homens que lhe aplica um curativo.

A outra mulher avança. Yukio substitui a lâmina e repete o processo. Cuidadosamente ela faz o mesmo com a terceira mulher e um dos homens.

As fontes se retiram a seguir. Yukio oferece uma chawan para Leonardo e separa outra para si. Então mergulha a hishaku no sangue espesso e enche a chawan da prole, para em seguida encher a sua própria.

– Itadakimasu!

Dizem ao mesmo tempo. Então bebem da taça. Repetem o processo várias vezes, até finalmente terminarem. Havia se passado meia hora.

A Primógena põe os utensílios de lado e ergue-se, convidando Leonardo a segui-lo. Eles deixam o recinto e saem por outra porta, levando ao jardim zen-budista do lado de fora. Carpas nadam em um pequeno lago cercado por pedras e plantas ornamentais, sob uma cerejeira. Um pequeno pedaço da terra natal de Yukio.

– A situação em Magdala vai... piorar... nas próximas noites. Você não pode mais estar sozinho e este é um momento onde precisamos estar unidos mais do que nunca. Eu gostaria que formasse uma coterie, um círculo de aliados de sua própria idade.

– Haverá uma reunião de toda a Família no Teatro Municipal em três noites. Nos veremos lá, Leonardo-kun.

Eles se despediram. Ao sair, Leonardo foi alcançado por uma serva.

– Leonardo-sama, chegou esta carta para o senhor.

A serva curvou-se e se afastou. Leonardo abriu o envelope... e viu uma foto de si mesmo no exato momento em que encarava alguém com sua katana sacada, buraco de balas no peito. Não havia sangue. Recordou-se de um pequeno conflito que tivera na Comunidade Hong Kong quando um devedor local, um viciado inútil, se recusara a pagar o que devia e atirou nele, exigindo uma ação mais... definitiva. Nenhum Membro tinha as mãos limpas, todos tinham esqueletos no armário, e ele não era exceção.

Atrás da foto havia uma mensagem: "EU SEI O QUE VOCÊ É, EU SEI O QUE VOCÊ FEZ! Esteja no endereço abaixo às 02:00 de hoje ou todos saberão!"

O local era na Cidade Industrial. Se decidisse ir, levaria cerca de meia hora para chegar ao endereço.

Off:

Leonardo Shimazaki, Ventrue, 9ª Geração Sem Ferimentos (0/7), PS(14) 14, Vont (5) 5. Experiência: 0.

Naquela noite Leonardo fora convocado por sua senhora. A convocação veio na forma de um convite para a cerimônia de sangue, uma variante vampírica da cerimônia de chá japonesa. Chegou ao refúgio de sua senhora com vinte minutos de antecedência. Tempo que usou para trocar suas roupas e vestir seu tradicional kimono cerimonial.

Após avaliar os utensílios que seriam usados na cerimônia, dirigiu-se para o canto reservado aos convidados membros, sentando-se em posição seiza. As principais diferenças entre a cerimônia de sangue e a cerimônia de chá são, a distinção entre membros e mortais e a substituição de alguns utensílios.
Em seguida, uma serva trouxe doces sofisticados para os convidados mortais. Iguarias gastronômicas que Leo apreciava muito em sua época mortal. Os doces eram uma demonstração de respeito e gratidão a aqueles que proveriam o precioso vitae para a cerimônia.  

Pouco tempo depois Yukio aparece e dá sequência a cerimônia. Por ser quem é, sua senhora possui muitos servos que podem auxiliá-la em alguns passos da cerimônia. Leonardo provavelmente teria de realizar os curativos dos mortais ele mesmo.
Quando recebeu a chawan, ele a girou para não beber pelo lado da frente, assim como lhe foi ensinado. A cerimônia exigia muita concentração e calma. Ao terminar, retirou-se do recinto para acompanhar sua mestra.

Enquanto passeavam pelo jardim da casa, sua senhora o alerta do perigo das próximas noites e recomenda a sua prole que crie um círculo de aliados para se protegerem mutuamente.

- Hai, Yukio-sama. - Disse fazendo uma reverência saikeirei.

Conseguir uma coterie não seria fácil. O membro era habitualmente mais reservado, embora não fosse necessariamente antissocial. Despediu-se da primógena com a mesma reverência e foi abordado por uma serva no caminho.

- Origato. - Respondeu à serva.

Assim que viu o conteúdo do envelope, se espantou. Quase não pôde acreditar. Tinha certeza que não havia testemunhas por perto. Gastou alguns instantes pensando em quem poderia se beneficiar ao delatá-lo. Um mortal comum não iria encará-lo de frente, se fosse esperto. Um caçador teria melhor benefício se mantendo oculto e fazendo uma emboscada, a menos que a carta fosse uma isca. Poderia ser outro membro uma vez que chantagens são comuns entre eles, mas não fazia sentido revelar ao mundo um segredo que iria expô-lo também. Além disso, outro membro não precisaria afirmar saber que Leo também o era.

Por mais que pensasse sobre o assunto,não conseguia chegar a uma conclusão. Também não queria incomodar sua senhora com um problema menor. Primeiro tentaria resolver o que quer que fosse por conta própria.
Trocou de roupas voltando ao seu habitual terno. Gostava de seu kimono, mas preferiu preservá-lo para ocasiões realmente importantes. Dirigiu até as proximidades do local marcado. Deixaria o carro em um estacionamento 24h ou estacionado um pouco distante.
Fez uma caminhada pelas redondezas para avaliar algum movimento suspeito. Não queria se atrasar para chegar, mas também não seria bom chegar cedo demais. Pretendia chegar com algo em torno de 15 a 25 minutos de antecedência. Levava consigo sua katana escondida em um estojo e sua wakizashi, uma katana curta, escondida dentro do terno.

- É claro que isso acontece.

Primeiro, veio o calafrio. Mas então, sorriu. Não conseguia evitar. Uma parte de si clamava por aquilo. Ele iria fazer quem quer que cometesse aquele ato pagar. Se sua existência era a dicotomia entre o monstro que Deus criara e o homem que Deus ditava que fosse, ele devia alimentar o primeiro lado. Era tão justo quanto o outro, não?

Amassou o papel, e se preparou para se dirigir ao local.

Miguel havia escolhido ir em Necropolis. Um nome sugestivo, considerando a Necrópole abaixo da cidade, que já o confundiu diversas vezes ao conversar com Membros. O Brujah aprontou-se, a arma dentro da jaqueta, celular, chaves do carro. "Cigarros", como costumava fazer quando vivo. Na época, não havia celular, então o check list era apenas chaves e cigarro.

Desceu no elevador olhando-se no espelho, encarando sua palidez de um jovem recém morto. Parecia decente, jaqueta de couro fechada. Pensava nas consequências de seus atos no mundo vampírico. Enquanto mortal, era comunista, próximo de grupos revolucionários. Depois que virou Membro, conhecendo anarquistas, quase se tornou mais um nas fileiras desse grupo rebelde contra a Camarilla, embora se unissem quando enfrentavam inimigos em comum. Porém, Miguel acabou preferindo a segurança da Camarilla em resolução de problemas.

Até o momento morando em Magdala, apenas uma vez havia tomado partido, quando se uniu aos outros para enfrentar o Sabá, mais de 30 anos atrás. Desde então, manteve-se neutro, invisível na sociedade vampírica, fazendo aparições pontuais, mas nunca tomando lados. Diferente de suas aparições no mundo dos vivos, escrevendo ou dando aulas, mostrando seu lado comunista e inspirador de uma juventude antissistema.

Agora, ironicamente, buscaria o "status quo" do mundo vampírico para pedir ajuda. Talvez suas experiências com os anarquistas russos através de seu Senhor, ou do modo cheio de incertezas, volúvel como encaravam os problemas. A Camarilla apresentava maior segurança para resolver assuntos individuais.

O carro não deu partida.

— Era só o que me faltava.

Tentou de novo. Nada. Miguel sentiu o sangue ferver.

Terceira tentativa, pegou. Olhando para trás para fazer a curva e sair da garagem, o carro parou de novo. O Brujah deu um soco no volante, segurando sua força. Antes que tentasse ligar de novo, o celular mandou um alerta de mensagem. Temendo ser Eddie de novo, ele pegou rapidamente, no limiar do sobrenatural. Viu o alerta de mensagem tocar várias vezes.

"Não se atrase."

"Não se atrase."

"Não se atrase."

Não entendia. Não tinha origem, mas ele não era bom em identificar essas coisas tecnológicas do século XXI. O carro, então, pegou repentinamente.

— E essa agora...

Reclamou consigo mesmo e partiu em direção à boate.

Miguel Alves Rodrigues

O som era alto e potente, o grave era baixo e pesado. O rebanho pulava na pista enquanto predadores caminhavam por eles à escolha de presas. Necropolis.

No fim dos anos setenta o Necropolis foi fundado trazendo a subcultura gótica para um Brasil ainda dominado pela ditadura e pela disco music. Em meio às músicas sombrias e depressivas havia um grito pela liberdade.

A liberdade do Sabá.

O Necropolis fora criado por um bando Sabá para servir de repasto aos membros da Espada de Caim. Nos porões as verdadeiras festas aconteciam, com mortais pendurados no teto, vertendo sangue sobre vampiros eufóricos.

Mas isto tudo acabou. Uma coterie liderada pela Toreador Silvana "Lady Carmilla" Seixas e pelo Brujah Rodrigo "Lord Vlad" Cardoso invadiram o Necropolis durante a Batalha de Magdala e mataram todos os Sabás que encontraram, tomando o lugar para si. O declararam um território livre para caça para todos os Membros da Camarilla.

Os anos passaram e o perfil dos mortais mudou. O clube ainda reservava algumas noites para os góticos, mas agora a música eletrônica tomava conta e as noites eram agitadas à base de dark techno e bass house.

Miguel caminhou entre os corpos saltitantes, desviando deles o melhor que podia – era uma noite de domingo com casa cheia. Ele viu alguns membros. Lady Carmilla estava sentada ao balcão do bar. Lord Vlad estava em um canto, flertando com uma mortal. "Caçando" seria um termo melhor.

Off:

Miguel Alves Rodrigues, Brujah, 10ª Geração Sem Ferimentos (0/7), PS(13) 11, Vont (7) 7. Experiência: 4

Miguel não gostava de boates no geral.

Uma ideia que surgiu nos anos 80 no Brasil e que hoje se elitizou fortemente nas mãos da classe média alta. No mundo dos Membros não era tão diferente, exceto que as classes que importavam eram os clãs. Miguel não via iguais por ali, apenas degenerados, ilusionistas que mimetizam os vivos apenas para esconder uma única verdade: estão mortos. O vampiro não sente, apenas imita o sentimento de quando era vivo. Nesse aspecto, o Sabá tinha contato com uma liberdade mais sincera.

Miguel se esforçava para parecer mundano, mas cada vez mais era difícil se importar.

Agora, sentia a necessidade de sobrevivência. Buscar aliados, pessoas com que confiava para lidar com o problema mais recente. Ser chantageado. Por um vivo, ainda por cima. Miguel balançou a cabeça negativamente, a lembrança da quebra da Máscara ainda nebulosa.

O Brujah desviava dos corpos dançantes dos vivos e dos caçadores. Se surpreendeu ao ver os dois donos do lugar e lembrou vagamente da história da Necropolis, de como os dois tomaram o lugar do Sabá na batalha de Magdala, anos atrás. Miguel não sabia como procurar auxílio no seu caso. Formar uma coterie era o mais sábio, mas precisaria de ajuda pra isso.

Se aproximou de lady Carmilla, sentando-se no balcão do bar, ao seu lado.

— Lady Carmilla, boa noite. Sou Miguel Rodrigues... como vai?

Miguel reparou que ela o observava por completo. Mas era difícil entender o que ela pensava, uma vez que a máscara ocultava suas expressões.

— Boa noite. Eu me lembro de você. O que o traz à nossa casa, Miguel?

O Brujah fez uma mesura simples da década de 50 do século XX.

— Lembra de mim? Bom, então talvez deva saber que sempre fui muito discreto e na minha, certo? Porém... acho que preciso de uma coterie. Problemas recentes me fizeram crer que é hora de assumir que sou um Membro e não um mortal com presas.

Ele sorriu calmo. Ela inclinou o rosto para o lado, avaliando-o com curiosidade.

— Entendo... você quer que eu veja por aí se tem alguém interessado em se associar a você? Eu posso ver isso. Volte semana que vem e talvez eu tenha alguma coisa.

Miguel coçou o cabelo, mas nenhuma coceira o incomodava.

— Infelizmente preciso pra hoje. Antes de 01 da manhã, preferencialmente.

Teve que revelar a pressa. Isso evocaria mais perguntas. Mas Miguel confiava que podia enrolá-la com precisão. Ela arregalou os olhos por dentro da máscara.

— Essas coisas não são feitas tão rapidamente assim! Se tem um problema tão urgente, creio que terá que contratar alguém. O seu próprio pessoal não pode te ajudar?

— Talvez. Mas preferi vir aqui. Em minha experiência, é mais seguro. Se puder me ajudar, fico te devendo uma.

— Olha, posso tentar pedir pra alguém ir com você.  E você fica devendo... pra mim e pra pessoa que for.

Miguel suspiraria se pudesse. Conteve um sorriso de lado, como se estivesse controlando a situação.

— Já é. — Disse simplesmente, quase dando de ombros.

— Certo. Venha comigo.  — ela guiou Miguel até um dos cubículos reservados. Fechou a porta e perguntou:

— Agora que temos mais privacidade, você vai ter que me dizer o que está acontecendo. Quem for se arriscar precisa ter uma ideia do problema e eu não vou por o meu na reta se você levar alguém em uma missão kamikazi.

Miguel não se surpreendeu.

— Um amigo meu foi raptado. Um mortal. Por um grupo de desgarrados, lá na Roça. Sinto que eles têm algo na manga que pode me prejudicar, então pretendo resolver isso logo, reunir com outros que possa confiar minimamente.

— Você está me escondendo alguma coisa. Não vou acusá-lo de tentar me enganar, mas se não pode confiar em mim, também não posso confiar em você.

Miguel estremeceu. Podia confiar nela? Claro que não. Divulgar a ela a chantagem que sofria o colocaria em outro perigo. Mas este, pelo menos, era dentro da Camarilla. Ele serviria de peão em seus jogos, mas era alguém conhecida pelo menos.

— Isso é a verdade. Pelo menos parte dela. Mas não me sinto confortável em contar abertamente o que passo. Não me leve a mal, mas a Camarilla não me deu motivos para confiar cegamente.

Ele encostou na parede, com os braços cruzados.

— E se... bebêssemos o Sangue um do outro? Um laço de contribuição mútua, pelo menos o primeiro passo. E eu estarei ao seu dispor no que precisar, sem perguntas.

Era o máximo que podia fazer. Estava em desvantagem, então teria que agir como tal.

Ela gargalhou. Miguel balançou a cabeça.

— Não vou trocar sangue com você. Acho melhor encerrarmos por aqui.

— Estou sendo chantageado. Não sei por quem, embora eu suspeito que não sejam Membros. É isto. E preciso comparecer em um lugar até 02 da manhã.

Não havia o que fazer. Era preciso dar esse passo adiante. Ela interrompeu seu rompante de ir embora.

— Hm... entendo. E você não quer ir sozinho e está tão desesperado que está disposto a pedir ajuda a estranhos. Certo... espere aqui, vou ver o que posso fazer por você.

Ela saiu do cômodo. Miguel ficou incomodado por vários minutos de espera, esperando ser emboscado de alguma forma... mas ele sentiu subitamente uma perda de força - era algo pequeno, mas perceptível. Na parede em frente surgiu uma mensagem... escrita em sangue.

"Não se atrase."

A mensagem desapareceu logo antes da Toreador retornar. Desta vez Lord Vlad estava com ela.

— Soube de seu problema, camarada. — diz o Brujah. — Eu irei com você. Precisamos ficar unidos, não é mesmo? — ele completou, sorridente.

Claro. Devia ter ido a ele primeiro que era de seu clã e não na moça Toreador. Porque tomou essa escolha? Tinha algo a ver com tentar manter-se distante das coisas dos clãs? Ou algum tipo de atração que lady Carmilla exercia naturalmente? Sentiu-se estúpido subitamente, por oferecer o Laço de Sangue.

Miguel cumprimentou lord Vlad.

— Vlad. — seu aperto de mão era forte. — Disse que suspeitava não serem membros. Mas acabo de ver algo "mágico". Não entendo muito do submundo sobrenatural, mas imagino que ver mensagens de sangue na parede e perder parcialmente a força seja um efeito de quem manipula o Sangue.

Apenas disse para o homem em seguida.

— Meu caro, não entendo muito disso, é coisa dos Tremere. Se vamos lidar com Feiticeiros, vou levar minhas melhores armas.

Miguel não queria, mas no fundo sabia que podia ser truque de Tremere. Lembrou do Ozório na noite na Roça. Balançou a cabeça, não queria fazer acusações contra um ancillae agora.

Uriel Constantino

Uriel havia chegado muito cedo ao local. Ele parou diante da casa, mas as luzes estavam apagadas, a porta fechada. Ainda era muito cedo, não havia o que fazer, ele precisava esperar pela hora marcada. Quando faltava meia hora para o encontro o portão eletrônico repentinamente se ergueu e a luz da varanda acendeu, assim como a da sala.

Ele sentiu o forte odor assim que entrou. Saiu da sala e entrou por um corredor. O lugar todo estava uma bagunça – parecia que havia ocorrido uma luta ali. Havia sangue seco em respingos, como se alguém tivesse se arrastado.

Ele encontrou o corpo na copa.

Homem branco, beirando os quarenta anos. Quatro orifícios causados por projétil. Na sala ele havia visto o homem com uma bela mulher loira, na mesma faixa etária – provavelmente sua companheira ou esposa, mas ela não estava na casa.

Ele ouviu sons da frente da casa. O portão se abrindo, a porta se abrindo. Passos, conversas sussurradas. Mais pessoas haviam chegado – e ali estava ele, diante de um cadáver.

Off:

Uriel Constantino, Lasombra, 9ª Geração Sem Ferimentos (0/7), PS(14) 12, Vont (4) 4. Experiência: 3.

Carlos Rocha de Oliveira

Carlos e Ana entraram pelo portão aberto, que fechou atrás deles logo em seguida. A lâmpada na pequena varanda na entrada, assim como a do cômodo de dentro, estavam acesas. A carniçal testou a maçaneta e viu que estava destrancada. Entraram.

O lugar estava uma bagunça. E havia o mal-cheiro terrível. Carlos reconhecia o odor. Morte. Putrefação.

Sem mais, iam explorar o lugar quando ouviram o portão lá fora erguer-se novamente. Mais alguém estava chegando.

A porta abriu-se e alguém surgiu. Aparência jovem (embora isso não significasse nada para os imortais), vestia um terno refinado e carregava um guarda-chuva. O que era estranho porque Carlos sabia que não havia previsão do tempo mudar e o céu estava limpo.

Off:

Carlos Rocha de Oliveira, Tremere, 13ª Geração Sem Ferimentos (0/7), PS(10) 08, Vont (7) 7. Experiência: 3.

Leonardo Shimazaki

Após deixar o carro estacionado, Leonardo caminhou pelas imediações do endereço. Era basicamente um bairro residencial e o pequeno comércio local já estava fechado. As ruas estavam vazias.

Ele percebeu algumas pequenas câmeras em frente a algumas casas. Era um bairro de classe média, bastante tranquilo, pelo visto. Daqueles que as crianças brincavam na rua até tarde da noite e os vizinhos sentavam em frente ao portão e batiam papo entre si.

Por fim a hora marcada para a reunião chegou. Ele dirigiu-se até o local e ao se aproximar o portão da garagem ergueu-se para deixa-lo entrar. Ele viu que as luzes da varanda e do que deveria ser a sala estavam acesas, mas não era possível ver o interior. Ele mexeu na maçaneta e viu que estava aberta – e duas pessoas estavam lá dentro.

Off:

Leonardo Shimazaki, Ventrue, 9ª Geração Sem Ferimentos (0/7), PS(14) 14, Vont (5) 5. Experiência: 0.

Miguel Alves Rodrigues

Miguel e Vlad chegaram a casa bem perto do horário agendado, no carro de Vlad por insistência deste – o veículo era um esportivo rápido e possante. Ele mostrou sua pistola em um coldre dentro da jaqueta.

– Nossa melhor chance é se forem Tremere – podemos tentar negociar com eles, já que nossos Clãs possuem um acordo de ajuda mútua.

O portão no endereço indicado estava aberto e não havia câmeras visíveis na rua. Havia uma luz acesa na varanda e no que parecia ser a sala, a porta também estava escancarada. Havia um homem de terno com um guarda-chuva na porta, de costas para eles, e parecia haver mais gente lá dentro.

Off:

Miguel Alves Rodrigues, Brujah, 10ª Geração Sem Ferimentos (0/7), PS(13) 10, Vont (7) 7. Experiência: 4

Ao se aproximar do local indicado, Leo foi recebido pelo portão da garagem que se abria. Um óbvio convite para que entrasse. Seu anfitrião já o estava aguardando. Não seria educado fazê-lo esperar mais. Dirigiu-se para a porta que daria acesso ao interior da residência. Estava destrancada. Empurrou a porta e esbarrou em outras duas pessoas.

- Opa! Não esperava encontrar meus anfitriões me aguardando na porta. Espero não ter chegado cedo demais. - Disse ao olhar o relógio e notar que eram 01:42 am.

Logo em seguida ouviu um carro se aproximando e parando na mesma rua. Era pouco provável que se tratasse de algum residente da vizinhança a aquela hora da madrugada, embora não impossível.

- Mais convidados? Somos todos VIP ou a honra é só minha?

Carlos era um jornalista investigador e estranhamente detestava interação social.

Naquele momento desejava não ter reflexo como alguns membros já relatavam sobre sua maldição.

Caminhou sem falar nada, Ana Júlia estava pronta caso necessário e então um homem aparece diante dele, mas pelas falas não era quem os esperava.

- Sinto informar, mas não sou o responsável por esse encontro.

Falou em uma voz sem emoção, sua carniçal não fez qualquer menção de falar algo. Ela entendia que era um local perigoso.

- Acho que ainda temos um tempo antes de sermos chamados, poderia saber sua alcunha?

Não sabia quem era ele ou o que estava fazendo, mas o jornalista não gostava de estar naquela situação.

O casal que Leo encontrou na porta aparentemente não eram os responsáveis por chamá-lo. Mais que isso. Ao que tudo indicava, também estavam em posição semelhante a do ventrue.

- Entendo. Peço desculpas pela confusão. - Fez uma breve reverência.

Logo em seguida o homem lhe pergunta sobre sua identidade. Um comportamento um tanto descortês considerando que não apresentou a si ou sua companheira antes de perguntar. Mas não havia o que ser feito. Aquilo não era uma reunião social. Cortesia e etiqueta eram o que menos importava diante da ameaça e chantagem a que estavam submetidos.

- Me chamo Leonardo. Diria que é um prazer conhecê-los, mas ainda não sei como devo me dirigir ao cavalheiro ou a dama que o acompanha. - Estendeu a mão para cumprimentar o casal.

Após as apresentações:
Leo irá apertar a mão de Carlos e dirá: - Prazer em conhecê-lo.
Leo irá beijar o dorso da mão de Ana e dirá: - Encantado em conhecê-la, lady.

- Suponho que estamos aqui pelo mesmo motivo. Chantagem, estou certo? De forma que temos um interesse em comum. O que acham de nos ajudarmos até que esse assunto esteja resolvido?

Miguel não gostava da ideia de ir no carro de outro alguém, mas decidiu confiar em Vlad. Não tinha escolha. Qualquer coisa, sabia que podia fugir sem maiores problemas. Porém, sua existência em Magdala estava ameaçada. Sentia que talvez fossem seus últimos dias nelas.

Enquanto Vlad o levava em seu carro esportivo ao endereço indicado pela ameaça misteriosa, Miguel fantasiava uma vida em outro lugar. Uma cidade com pouco sol, muita chuva, pessoas que cuidavam de si. Curitiba parecia ser uma boa pedida.

Seus devaneios foram interrompidos quando chegaram ao local. Estava todo aberto, escancarado. Miguel viu a arma do outro, mas não disse nada. Balançou a cabeça sabendo que sua arma estava na mesma posição, pronta para dar uns tiros.

O Brujah observou a varanda, o homem de terno de costas a eles.

— Não entendo por quê Tremeres fariam isso. O teor da mensagem indicava que não fossem Membros. — Disse para pescar o que Vlad achava disso, antes de decidir se saía do carro ou não.

— Mas o que eles disseram? Até agora não vi como estão te ameaçando. Me deixe ver essas mensagens.

Miguel mostraria o celular, mas lembrou que não era isso que havia despertado desconfianças.

— No celular não tem nada. Mas recebi um envelope com fotos comprometedoras e... bem, com ameaças. Como soubesse quem eu sou. Algo assim. Pensei em alguma criatura descobrindo minha condição de vampiro. — Aproveitou para mostrar o envelope, retirado da jaqueta.

Ele avaliou as fotos por um tempo. Miguel ficou obviamente desconfortável, tendo sua falha exposta e avaliada por outro.

— Não seria a primeira vez que um Membro ameaça outro com a quebra da Máscara, mas é algo incomum. Acho que só descobriremos indo até lá.

Miguel concordou em silêncio, então abriu a porta do carro e saiu dele. Vlad o seguiu.

O Brujah andou rápido quando o homem de guarda-chuva e terno entrou na casa. Ouviu algumas palavras. "Chantagem".

Então, era algo maior e outros Membros envolvidos. Miguel trocou olhares com Vlad. Provavelmente era um Ventrue. E paulista, a julgar pelo guarda-chuva.

— Boa noite. Eu sou Miguel e este é Vlad... vim aqui com um convite misterioso. Imagino que... você esteja certo, Leonardo.

Disse com um sorriso amarelo.

Enquanto conversava com o casal, mais dois convidados se aproximaram. A dupla ouviu a conversa, assim como Leo esperava. Isso reduzia a necessidade de repetir explicações.

- Prazer em conhecê-los cavalheiros. - Estendeu a mão para comprimentar ambos. - Só lamento que tenha sido em condições tão… desagradáveis. Para dizer o mínimo. Posso fazer uma pergunta? Gostaria de saber se vocês teriam algum suspeito. Particularmente não consigo imaginar muitas pessoas que teriam algum ganho para chantagear um membro, principalmente considerando que pode estar arriscando o próprio pescoço. Que é o que me leva a pensar que reunir a todos nós aqui é algum tipo de armadilha. Além de ameaças e coações, quero dizer.

Miguel esforçou-se para esboçar um sorriso com a pergunta do engomadinho.

— Suspeito? Suspeito de chantagem? — Fingiu desconhecimento.

— Estou aqui por causa do convite. Saberei o que é quando o anfitrião aparecer. Mas se for chantagem... bem, pode ser que alguém esteja desesperado por ajuda e não tinha como conseguir sem forçar.

Miguel deu de ombros, tentando ser evasivo. Restava aguardar a chegada do tal anfitrião. Querendo ou não, estava preparado com Vlad e sua pistola oculta na jaqueta...

Tinha de desaparecer.

Se outros chegavam ali, que fosse o último à chegar, sem dar sinais de antes ter estado ali também. E então, Uriel chamou pelas sombras, e elas responderam. Se emsclando à elas, o rapaz começou à se esgueirar.

Ativa Jogo das Sombras, e tenta ir até a entrada despercebido. (9 + 3 + 8 + 9 + 8 + 2 + 5).

Carlos fez menção de falar até surgir mais um membro, a noite estava bem agitada pensou o jornalista.

- Carlos e ela se chama Júlia.

Terminou por falar, Ana Júlia não falou nada. Sabia que diante de outros membros sem serem aliados de seu mestre era preferido o silêncio, a carniçal apenas fez um gesto de cortesia com a cabeça.

- Acho que teremos que aguardar para termos respostas.

Falar abertamente sobre a quebra da máscara? Já tinha problemas o suficiente com aquelas fotos, não ia por uma gravação de voz ali.